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Entulho de Demolição: Cálculo, Gestão e Destinação

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O gerenciamento adequado do entulho de demolição é um desafio significativo para profissionais da construção civil e proprietários que realizam reformas. Um planejamento eficiente não apenas otimiza custos com transporte e destinação, mas também minimiza o impacto ambiental desses resíduos. Estima-se que o setor da construção civil seja responsável por mais de 50% dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, tornando esse tema extremamente relevante para quem atua na área.

Este guia abrange desde o conceito básico de entulho de demolição até métodos práticos de cálculo para diferentes materiais e escalas de projeto, além de apresentar soluções sustentáveis para destinação desses resíduos.

O Que é Entulho de Demolição e Seus Impactos

Entulho de demolição, tecnicamente denominado Resíduo da Construção Civil (RCC) ou Resíduo da Construção e Demolição (RCD), compreende todos os materiais resultantes de atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas civis.

Composição Típica do Entulho

Os principais componentes encontrados no entulho de demolição incluem:

  • Materiais cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, azulejos)
  • Concreto (simples ou armado)
  • Argamassa
  • Madeira
  • Metais (ferragens, tubulações)
  • Plásticos (tubos, instalações elétricas)
  • Vidros
  • Gesso
  • Solos e rochas

Classificação Segundo a Resolução CONAMA

De acordo com a Resolução 307/2002 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), os resíduos de construção civil são classificados em:

  • Classe A: Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados (ex: concreto, tijolos)
  • Classe B: Resíduos recicláveis para outras destinações (ex: plásticos, papel, metais)
  • Classe C: Resíduos sem tecnologias economicamente viáveis para reciclagem
  • Classe D: Resíduos perigosos (ex: tintas, solventes, amianto)

Esta classificação é fundamental para determinar a correta destinação de cada tipo de resíduo gerado em demolições.

Métodos de Cálculo para Quantificar Entulho de Demolição

Estimar com precisão o volume de entulho a ser gerado em uma demolição é essencial para planejar adequadamente a logística de remoção, os custos associados e a destinação final. Existem diferentes abordagens que podem ser utilizadas, dependendo da quantidade de informações disponíveis sobre a edificação.

Método Simplificado por Área Construída

Para estimativas iniciais ou quando não se dispõe de informações detalhadas sobre a construção, pode-se utilizar um índice médio de geração de entulho por metro quadrado:

Fórmula básica:

Volume de entulho (m³) = Área construída (m²) × Índice de geração

Índices médios de geração por tipo de construção:

  • Construções em alvenaria convencional: 0,15 a 0,20 m³/m²
  • Construções em concreto armado: 0,20 a 0,25 m³/m²
  • Demolições seletivas: 0,10 a 0,15 m³/m²
  • Reformas internas: 0,05 a 0,10 m³/m²

Exemplo: Para uma casa de alvenaria com 100m², o volume estimado seria:

100m² × 0,18m³/m² = 18m³ de entulho

Método de Cálculo por Composição de Materiais

Um método mais preciso envolve calcular o volume de cada componente construtivo e aplicar fatores de empolamento (aumento de volume após demolição):

Passo 1: Levantamento dos componentes

Liste todos os elementos construtivos a serem demolidos (paredes, pisos, tetos, etc.)

Passo 2: Cálculo do volume de cada componente

Para cada componente, calcule seu volume na edificação:

Volume = Comprimento × Largura × Altura (ou espessura)

Passo 3: Aplicação do fator de empolamento

O entulho ocupa mais espaço que o material original devido aos vazios criados após a demolição:

Volume final = Volume inicial × Fator de empolamento

Passo 4: Soma dos volumes

Some os volumes de todos os componentes para obter o volume total de entulho.

Cálculo de Entulho por Tipo de Material: Índices Práticos

Diferentes materiais geram quantidades distintas de entulho e apresentam fatores de empolamento específicos. A seguir, apresentamos os principais índices para os materiais mais comuns em demolições:

Paredes e Alvenarias

Tijolos cerâmicos ou blocos:

  • Volume em parede: Área (m²) × Espessura (m)
  • Fator de empolamento: 1,3 a 1,5
  • Peso específico médio: 1.300 a 1.600 kg/m³

Exemplo: Para uma parede de 20m² com espessura de 15cm:

Volume = 20m² × 0,15m = 3m³

Volume empolado = 3m³ × 1,4 = 4,2m³

Peso aproximado = 3m³ × 1.400kg/m³ = 4.200kg

Concreto e Estruturas

Concreto armado:

  • Fator de empolamento: 1,5 a 1,7
  • Peso específico médio: 2.300 a 2.500 kg/m³

Exemplo: Para uma laje de concreto de 50m² com 10cm de espessura:

Volume = 50m² × 0,10m = 5m³

Volume empolado = 5m³ × 1,6 = 8m³

Peso aproximado = 5m³ × 2.400kg/m³ = 12.000kg

Revestimentos e Pisos

Revestimentos cerâmicos:

  • Volume: Área (m²) × Espessura (geralmente 0,01 a 0,02m)
  • Fator de empolamento: 1,2 a 1,3
  • Peso específico médio: 1.800 a 2.000 kg/m³

Exemplo: Para 30m² de piso cerâmico com 1cm de espessura:

Volume = 30m² × 0,01m = 0,3m³

Volume empolado = 0,3m³ × 1,25 = 0,375m³

Peso aproximado = 0,3m³ × 1.900kg/m³ = 570kg

Madeiras e Materiais Leves

Madeira (forros, pisos, estruturas):

  • Fator de empolamento: 1,1 a 1,2
  • Peso específico médio: 600 a 900 kg/m³

Exemplo: Para 25m² de forro de madeira com 2cm de espessura:

Volume = 25m² × 0,02m = 0,5m³

Volume empolado = 0,5m³ × 1,15 = 0,575m³

Peso aproximado = 0,5m³ × 700kg/m³ = 350kg

Gesso e Drywall

Gesso (placas ou revestimento):

  • Fator de empolamento: 1,2 a 1,3
  • Peso específico médio: 800 a 1.000 kg/m³

Exemplo: Para 40m² de parede de drywall com 10cm de espessura:

Volume = 40m² × 0,10m = 4m³

Volume empolado = 4m³ × 1,25 = 5m³

Peso aproximado = 4m³ × 900kg/m³ = 3.600kg

Gestão e Destinação Sustentável do Entulho

Após quantificar o entulho a ser gerado, é fundamental planejar sua gestão adequada, priorizando soluções sustentáveis sempre que possível.

Separação na Fonte

A segregação do entulho na origem é crucial para maximizar o potencial de reciclagem:

  1. Caçambas ou áreas separadas para diferentes materiais:

  2. Demolição seletiva: Técnica que prioriza o desmonte cuidadoso da edificação em vez de demolição convencional, permitindo maior aproveitamento dos materiais.

Opções para Destinação do Entulho

Dependendo da natureza do material e da disponibilidade local, existem diferentes alternativas para destinação:

1. Reutilização no Local da Obra

  • Utilizar concreto e alvenaria britados como base para pavimentação
  • Aproveitar estruturas de madeira em bom estado para outras construções
  • Usar entulho para regularização de terreno ou preenchimento de desníveis

2. Encaminhamento para Usinas de Reciclagem

Os resíduos Classe A podem ser processados em usinas de reciclagem, gerando:

  • Agregados reciclados para concreto não estrutural
  • Material para base e sub-base de pavimentos
  • Blocos e artefatos de concreto

3. Destinação para Aterros Licenciados

Quando a reciclagem não for viável, os resíduos devem ser encaminhados para:

  • Aterros de resíduos da construção civil (Classe A)
  • Aterros sanitários (para resíduos não perigosos que não podem ser reciclados)
  • Aterros industriais para resíduos perigosos (Classe D)

4. Venda ou Doação de Materiais Aproveitáveis

  • Materiais como portas, janelas, louças sanitárias e telhas em bom estado podem ser vendidos ou doados
  • Metais como aço, cobre e alumínio têm valor comercial considerável
  • Madeiras podem ser reaproveitadas em outras construções ou projetos de marcenaria

Aspectos Legais e Documentação

É importante destacar que a gestão de resíduos de construção e demolição está sujeita a regulamentações específicas:

  • Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR): Documento obrigatório para transporte de resíduos
  • Certificado de Destinação Final (CDF): Comprova a destinação adequada dos resíduos
  • Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC): Exigido para obras de maior porte

O gerador do entulho é legalmente responsável por sua correta destinação, mesmo após a contratação de serviços de coleta e transporte.

Cálculo e Gestão de Entulho em Obras de Grande Porte

Projetos de demolição de maior escala, como edifícios comerciais, industriais ou grandes estruturas, requerem abordagens mais sofisticadas para quantificação e gestão de resíduos.

Levantamento Detalhado de Quantitativos

Em obras de grande porte, é recomendável:

  1. Utilizar projetos as-built da edificação para levantamento preciso dos volumes
  2. Realizar modelagem BIM para quantificação detalhada dos materiais
  3. Desenvolver plano de demolição faseado para melhor gestão dos resíduos

Estimativa de Volumes por Pavimento ou Setor

Para edifícios multípavimentos, é recomendável calcular o volume por andar:

Volume total = Σ Volume por pavimento

Onde o volume por pavimento pode ser calculado utilizando:

Volume pavimento = Área construída × Altura do pé-direito × Índice de geração

Exemplo: Para um edifício comercial de 10 andares, cada um com 300m² e pé-direito de 3m:

Volume por pavimento = 300m² × 3m × 0,15 = 135m³

Volume total = 135m³ × 10 = 1.350m³

Logística e Equipamentos Especializados

Em demolições de grande porte, além do cálculo preciso, é fundamental planejar:

  1. Cronograma de remoção sincronizado com as fases da demolição
  2. Dimensionamento de equipamentos como escavadeiras, britadores móveis e caminhões
  3. Rotas de transporte e horários permitidos para tráfego de caminhões
  4. Áreas temporárias para armazenamento e classificação de resíduos

Monitoramento e Controle

Para obras de grande escala, é essencial:

  1. Implementar sistema de pesagem para controle preciso dos volumes gerados
  2. Estabelecer indicadores de desempenho para reciclagem e reaproveitamento
  3. Realizar auditorias periódicas para verificar conformidade com o plano de gestão
  4. Documentar o processo com relatórios fotográficos e quantitativos

Tecnologias e Inovações na Gestão de Entulho

O setor tem evoluído com soluções que otimizam o gerenciamento de resíduos de demolição:

Softwares Especializados

  • Programas de modelagem BIM que permitem estimar precisamente os resíduos a serem gerados
  • Aplicativos para gestão de resíduos que facilitam o rastreamento da destinação
  • Plataformas de marketplace que conectam geradores de entulho a recicladores

Equipamentos Modernos

  • Britadores móveis que permitem o processamento do entulho no próprio canteiro
  • Separadores magnéticos para recuperação de metais
  • Peneiras vibratórias para classificação granulométrica do material reciclado

Técnicas Avançadas de Demolição

  • Demolição controlada com uso de explosivos para minimizar danos às estruturas vizinhas
  • Corte com jato d’água que reduz poeira e permite separação precisa dos materiais
  • Demolição robótica com equipamentos operados remotamente para maior segurança

Considerações Econômicas e Ambientais

Análise de Custo-Benefício

Planejamento adequado do entulho pode representar economia significativa:

  • Redução de custos com transporte: Menor volume e distância
  • Economia em caçambas e containers: Otimização da capacidade
  • Receita com materiais recicláveis: Venda de metais e outros materiais
  • Redução de taxas de descarte: Menor volume destinado a aterros

Benefícios Ambientais

  • Redução de extração de matérias-primas: Menor impacto em recursos naturais
  • Diminuição do volume em aterros: Prolongamento da vida útil dessas áreas
  • Redução de emissões de CO₂: Menor consumo de combustível em transporte
  • Mitigação de impactos urbanos: Menor descarte irregular

O gerenciamento eficiente do entulho de demolição começa com um cálculo preciso dos volumes a serem gerados. Utilizando os métodos e índices apresentados neste guia, profissionais e proprietários podem planejar adequadamente a remoção, transporte e destinação desses resíduos, reduzindo custos e impactos ambientais.

Lembre-se que a legislação ambiental brasileira estabelece a responsabilidade do gerador pela correta destinação dos resíduos. Investir em planejamento adequado, quantificação precisa e soluções sustentáveis não é apenas uma questão de conformidade legal, mas também uma decisão economicamente vantajosa e ambientalmente responsável.

A tendência global aponta para práticas cada vez mais sustentáveis no setor da construção civil, com foco na economia circular e no máximo aproveitamento dos materiais. Adotar essas práticas desde já posiciona profissionais e empresas na vanguarda do setor, além de contribuir para um futuro mais sustentável.